Nota Introdutória
Dr. Filipe Lopes
(Diretor Clínico)
Nada como começar esta nota com a constatação de três factos que me parecem da maior relevância:
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Os consultórios dentários na Alemanha nunca fecharam durante a pandemia. Não posso deixar de o referir, porque num contexto como este é absolutamente necessário não ceder ao pânico e consultar informação relevante e fidedigna.
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No contexto de um consultório dentário existem vírus e bactérias muito mais nefastos e perigosos que o coronavírus Sars-Cov-2.
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A maior parte de nós vai ser infetado, mais tarde ou mais cedo, trata-se de um vírus muito mais contagioso que o da gripe, como tal é quase impossível evitar ser infetado.
Aquilo que a seguir se pode ler teve como base as considerações e orientações do Robert-Koch-Instituts (RKI, a autoridade de saúde máxima na Alemanha).
O conhecimento científico neste campo é já muito e tem evoluído rapidamente. É importante estarmos a par destes conhecimentos para poder trabalhar no nível de proteção adequado para os nossos pacientes, para a nossa equipe e para nós mesmos.
Que é que sabemos do SARS-CoV-2?
É um vírus de RNA da família dos chamados Coronaviridae, conhecido desde a década de 1960. Este vírus é novo, mas seu tipo não é, já se conhece há várias décadas e sabe-se muito acerca deste tipo de vírus.
Importa clarificar o seguinte:
O objetivo de um bloqueio e as medidas similares adotadas por muitos países não é impedir que todos sejam infectados - o objetivo é aplanar a curva de infecção para que o sistema de saúde não colapse. Por outro lado, as medidas de proteção adotadas na nossa consulta, são para, não esquecendo a proteção individual de todos, para, sobretudo, evitar que a nossa clínica seja uma fonte de propagação adicional, evitando assim a carga adicional no sistema nacional de saúde.
Apesar do Robert-Koch-Instituts (RKI, a autoridade de saúde máxima na Alemanha) indicar que as gotículas de saliva são a principal via de transmissão, não está claro que as partículas contidas nos aerossóis sejam suficientes para provocar infeção
https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMc2004973?url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori%2525253Arid%2525253Acrossref.org&rfr_dat=cr_pub%2525253Dpubmed
É importante distinguir os aerossóis com altas cargas experimentais de vírus dos aerossóis diluídos em spray de água, como os que ocorrem em contexto clínico de consultório dentário.
Foi demonstrado que o vírus pode ser detetado com um teste de esfregaço faríngeo em apenas 30% dos pacientes com COVID-19 sintomático ativo, enquanto esse teste é sempre positivo para fluidos e secreções brônquicas ou expetoração, daí a importância da etiqueta respiratória e do distanciamento pois tossir e falar podem expelir gotículas com origem mais profunda.
https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2762997
Bochechar com peróxido de hidrogénio (água oxigenada) parece reduzir a carga viral.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32035997/
A possibilidade de contaminação é reduzida em 90% pela aspiração cirúrgica e de saliva que sempre se realiza numa consulta dentária.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12271865
A Associação Alemã para a Higiene Hospitalar sublinha claramente que falar, tossir e cantar são as principais formas de contágio deste vírus.
https://www.krankenhaushygiene.de/ccUpload/upload/files/2020_03_22_DGKH_Mitteilung_Ausgangssperre_RKG_Konzept.pdf
As principais fontes de infeção são contatos casuais com pessoas fora do ambiente de uma clínica dentária ou médica, por isso a RKI não fechou os consultórios na Alemanha.
As máscaras N95 ou FFP2 filtram muito mais partículas do que as máscaras cirúrgicas comuns. Os aerossóis contêm partículas com tamanhos abaixo de 5 mícrons. No entanto, a evidência científica existente não prova que essas máscaras são superiores em contextos clínicos https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26952529/
Fechar os consultórios dentários não é ético e é completamente inadequado, por um lado porque as necessidades de tratamentos medico-dentários continuam, por outro porque as clínicas são ambientes desinfetados, com protocolos rigorosos por diariamente se confrontarem com agentes microbiológicos bem mais graves que o vírus SARS-cov-2.
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