A CASA DOS MEUS AVÓS
Era uma casa antiga, toda murada,
Com heras a cobrir os paredões.
Embora não fosse afidalgada,
Ali germinaram nobres corações.E foi aquele casebre um belo berço
Que albergou meus avós e minha mãe.
Passados alguns anos não esqueço
Aquela que me agasalhou também.
Saudosos são meus tempos de menina
Em que ali era muito acarinhada.
Aquele amor minha infância determina
E o início da minha caminhada.
Orações, junto à lareira, dirigidas
Por meu avô logo após a refeição.
As minhas mãos nas suas mãos erguidasDavam força à minha fé e devoção.
Quanto eu gostava de subir à eira
Vigiando e mexendo os cereais.
Sentada à sombra da figueira
Não deixava ali comerem os pardais.Naquele tempo falava-se da guerra
E meu tio e meu avô se repartiam.
Eu cantava então o fado da Severa
Para não ouvir o quanto discutiam.
Em dois planos se formavam os quintais
Ornados de altos buchos e de flores.
As pedras do terreiro eram corais
Onde todos despicavam meus amores.